terça-feira, 27 de novembro de 2007

A demanda do moderno e a nova polícia do Estado

Antes de começar, três artigos para contextualizar:


(artigo de António Barreto, retirado do 4R - clicar na imagem)

http://jn.sapo.pt/2007/11/27/pais/criticas_a_asae_a_porta_ginjinha.html
(notícia do JN)

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1060055.html
(artigo do DE, por Domingos Amaral)






Estou chocado. Talvez não seja razão para isso, seria de esperar com o actual panorama, mas a actuação desta polícia pidesca digna dos tempos da inquisição denominada de ASAE - cujas operações já levaram, este ano, à apreensão de um total de 45.823.156,31 euros (segundo a sua página oficial) - não deixa de me surpreender. E sempre pelos piores motivos. Soube hoje que A Ginginha, no Rossio, está ou esteve fechada por ordem da ASAE. É a tal, completamente invertida, ordem de prioridades a que este governo socialista (mas pouco) nos tem vindo a habituar. Provavelmente, o McDonald's ali ao lado está todo impecavelmente nos conformes. Cumpre todas as directivas impostas. Presta-nos um melhor serviço. Óleos de fritura e carnes duvidosas de multinacionais, tudo bem. Agora, bebidas alcoólicas caseiras? Nem pó! Tradições? Nem vê-las!

Depois do post O Azul Natalício, esta noticia, embora atrasada, cai... Que nem ginjas, para corroborar o que digo. É esta fome do que é moderno, do que é novo. Modernismos e preogressismos, diz Margarida Corrêa de Aguiar.

Hoje passeei pela baixa e tive esta conversa. Acerca desta tendência existente em todos os sectores, e também na arte. Na pintura, na música, na escultura, no cinema, na arquitectura, na dança...

Os supostos especialistas, os que estudaram para serem artistas(!?), parecem ser os primeiros a desrespeitar e desvirtuar a sua própria arte, aquela que intendem praticar. Um homem é capaz de passar cinco anos da sua vida a estudar, entre outras coisas história da arte e específicamente da arquitectura, para se tornar arquitecto para, no fim, ter a desfaçatez de assassinar sem rodeios uma qualquer Avenida da Liberdade. Qual mosca sem valor que pousa, com a mesma alegria, na careca dum doutor, como em qualquer porcaria, projecta o arquitecto, com empáfia e júbilo proporcionais à altura da obra, um paralelepípedo vertical, com vinte andares mas sem varandas, ao lado de um edíficio bi-centenário digno, ou detentor, de um Prémio Valmor. Todo o seu estudo não lhe chega para percepcionar o ridículo que é. O atentado. Não acha que a sua "arte" esteja deslocada nem que o edifício vizinho merecesse melhor (ou mais consentânea) companhia.

E os os escultores que temos hoje são os que fazem as Praças 25 de Abril (em Lisboa) por esse país fora? Foi isso que aprenderam a fazer? A estátua do Marquês tem um significado. É imponente e trabalhada. Representa alguma coisa. As pessoas páram para tirar fotografias, gostam de ver. Quando querem festejar as conquistas do seu clube acorrem-lhe em romaria, como que tributo a um símbolo. Da cidade e do país. Não há roteiro que a esqueça nem português que a não conheça. E aquele mamarracho da Praça 25 de Abril, o que é? E o famoso pirulito no topo do Parque Eduardo XVII? E a rotunda junto ao Carrefour? Os marqueses e entrecampos deixaram de agradar? Talvez devessem ser referência, mas não.

Ver um filme a preto e branco, sem explosões e dolby surround, apenas com o talento dos actores e realizador? Ouvir uma música com mais de 30 anos, sem batidas electrónicas ou guitarras eléctricas? Arte marcante e estéticamente inteligível, não minimalista? Comida caseira sem higiene mas com sabor? Tradições taurinas? Já eram...
Há que inventar, fugir aos preceitos, inovar. Para ser melhor? Não, só para ser original.

Originalidade é uma coisa, isto é cretinice.
Disse e repito, uma e outra vez: P.Q.P., o povo que se indigne, porque o povo é o lesado!

1 comentário:

Jorge Batista disse...

De facto, estes pseudo-protectores da saúde pública também me deixam algo apreensivo, para não dizer chocado com a imensa lista de propostas e leis que se esperam para o próximo ano.

É ridículo e indignante que um país como o nosso, onde a tradição na gastronomia é algo que só beneficia e trás mística a tudo o que é regional e local, se pense sequer em tomar medidas como as que acabei de ler.

Há que admitir que uma ou outra medida concerna a saúde pública e que devia, portanto, ser pensada a melhor forma de ser adaptada ao nosso panorama de forma a não levadas ao extremo para arruinar, não só o valor da tradição nos pratos do nosso dia a dia, mas como o negócio dos milhares de pessoas que já hoje lutam, com os seus produtos naturais e frescos, contra os enlatados industriais e comida rápida que os estabelecimentos comerciais promoven.

Rezemos para que estas medidas, assim como a fundamentalista ASAE, não passem a ser realidade. Mesmo que aplicadas estas nada saudáveis leis, que sejam boicotadas por todos, uma vez que todos serão lesados, como referiste.