sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

A ameaça bordejante



No seguimento de ameaças concretas à organização da prova - que não acredito que sejam inéditas - decidiram os seus responsáveis, pela primeira vez em trinta anos de competição, cancelar a edição deste ano, com início marcado para amanhã, em frente aos Jerónimos.

«Tendo em conta as actuais situações de tensão politica, a nível internacional, o assassinato de quatro turistas franceses, no passado dia 28 de Dezembro, atribuído a um ramo do Al-Qaeda, no Magreb islâmico, e acima de tudo as ameaças, directas, lançadas contra a prova, por movimentos terroristas, a A.S.O. (Amaury Sport Organisation) não pode tomar outra decisão que não seja a anulação da prova», lê-se em comunicado oficial. Para Portugal - que apesar de tudo, felizmente, não está habituado a lidar com este tipo de problemas - este pode ser o relançar do tema do terrorismo. Houve um pequeno sururu aquando do Euro 2004, temeram-se represálias no seguimento do encontro da Base das Lajes (entre Bush, Blair e Aznar, com Barroso no papel de mestre de cerimónias), falou-se de braços da ETA a funcionar no Algarve, mas nunca tivémos problemas - que lhe mereçam o nome - com ameaças terroristas internacionais. Até ver, mantemos essa ditosa condição.

Apesar de, aparentemente, o problema estar na Mauritânia e de a organização ser internacional (e maioritariamente francesa), o nome da prova, bem como uma das mais importante etapas - a inaugural -, estão indefectivelmente ligadas ao país. Dessa forma é um assunto que não pode ser descurado.

O cancelamento pode ter duas leituras:


  • A primeira, consentânea com a decisão tomada, de que a segurança é impreterível e é o factor mais importante para a prova.
  • A segunda acaba por estar, também, indirectamente ligada à segurança. À segunrança internacional, no médio e longo prazo. A cedência a estas ameaças não será o abrir de um precedente? Não estaremos a dizer "conseguiram! temos medo..."? Porque, no fundo (e no cimo, em todo o lado) o terrorismo é isso mesmo. É esta guerra pelo medo. Ganha-a quem conseguir aterrorizar mais o outro lado. Nunca a perderá quem não temer o opositor. Não estaremos a passar o poder para o outro lado?

Há quem diga, Carlos Sousa é um deles, que este pode ter sido o fim do Dakar (do rali).

Noutra prespectiva, é, sem dúvida, um enorme rombo nas contas de tantos desportistas, empresas, autarquias, e do próprio país.

O regresso ficou prometido para 2009. Que corra melhor.

1 comentário:

Tiago Mendonça disse...

" Tiraste-me o post das mãos ". Ia mesmo postar sobre este tema e na mesma linha que o fizeste. Parece-me óbvio que se este ano o Dakar foi cancelado, então para o ano, os extremistas vão repetir a receita e o Dakar, na mesma lógica, será cancelado. Se foi cancelado este ano será cancelado todos os anos. E sim foi dar força ao poder terrorista. Mas não poderia a organização ter feito mais. Não poderia, sabendo de ameaças concretas e perigosas, permitir a realização da prova e dessa forma em nome de uma causa internacional pôr em causa milhares de vidas humanas. Não podemos fazer do homem um isco. Aliás é por aí que estamos a perder esta guerra e a que perderemos sempre ante os terroristas. É que enquanto nós amamos e prezamos a vida, temos medo da morte, como num post fizeste menção, eles morrem pela sua causa. Alguns até desejam a morte. A vida é apenas secundária. E assim é díficil ganhar esta guerra. Para mim, podemos estar na iminência de uma terceira guerra mundial, entre cristãos e islâmicos, entre o ocidente e alguns países do médio oriente. O Desarmamento pela antecipação de algumas potências do " mal " pode ser uma necessidade. Não protagonizadas por uma potência mundial, mas antes por concertação entre todos. Os Estados Unidos não podem pensar que salvam o mundo sozinhos e da forma que isoladamente decidem. Mas todos nós temos que estar unidos e preparados para esta ameaça. Infelizmente, algumas vozes, mesmo em países como o nosso, falam dos Estados Unidos como se fosse o...Afeganistão. Também não concordei com a ofensiva UNILATERAL dos Estados Unidos ao Iraque. Mas não admito que líderes políticos que recebem grupos terroristas em festinhas na Atalaia critiquem essa mesma ofensiva.