domingo, 20 de janeiro de 2008

JSD - Defeito de Fabrico

Hoje, vou fazer um post de interesse meramente dos militantes da JSD e de mais alguns interessados em saber como é que isto da política funciona em termos internos, em especial numa juventude partidária.

Centro-me no método de eleição da Comissão Política Distrital : É eleita em conselho distrital eleitoral, e não em directas, pelos conselheiros distritais correspondentes a cada uma das secções do distrito de Lisboa, sendo que cada secção tem direito a proporcionalmente mais conselheiros quantos militantes tiver.

Dois problemas : Primeiro não existe eleição directas ; Não se quer saber da vontade de todo e qualquer militante da JSD/Lisboa mas antes dos barõezinhos da estrutura que são os conselheiros distritais ( lembro que para se poder ser conselheiro não basta se candidatar a essas eleições, é preciso integrar lista e respeitar os procedimentos para a formação da mesma que nem sempre são assim tão acessíveis) . Em segundo lugar, é perigoso a atribuição de um conselheiros proporcionalmente o número de militantes, pois desvirtua-se o objectivo das secções, em atrair pessoas de qualidade mas antes em fazer um saco de votos. Existem hoje secções de 150 militantes mais activas que secções de 700 militantes. Doa a quem doer, esta é a verdade.

Ora este problema leva a um outro ; Ou acreditamos que os senhores conselheiros distritais votam todos pelo que lhes parecer ser o melhor militante ou não acreditamos. Se acreditamos, continua o sistema a ter defeito de fabrico ; Quem tiver um maior número de militantes e não os melhores, tem mais conselheiros logo mais oportunidades de fazer discursos em conselho distrital que seria nesta primeira hipótese determinante para a escolha do colégio eleitoral. Se não acreditarmos, então ainda é mais cruel : Os candidatos são todos aqueles que mais números tiverem, e nem tão pouco interessa a qualidade política.

Este defeito de fabrico leva às maiores injustiças e faz com que as secções que decidem são aquelas que por norma menos trabalham dedicando o seu tempo a fazer militantes em quantidade. Por outro lado as pequenas secções que optem por não alinhar neste alistamento em massa e queiram fazer actividades ou moções ou discursos em conselho distrital, não as conseguem fazer, pois os discursos não são ouvidos, ou pior não têm tão pouco um número de conselheiros que lhes permita fazer um número de discursos que permita competir com as grandes secções, tem menos hipóteses de fazer moções, a menos que um só conselheiro congregue nele 4 ou 5 moções o que para além de enfastidioso também é injusto para com os outros pois fala 10 vezes mais tempo, e mesmo no domínio das actividades o impacto das mesmas não é a maior.

Mas superando isto, aceitando este defeito de fabrico, acreditando, ingenuamente, que os militantes se filiariam nas secções que mais trabalho político desenvolvem, deparamo-nos com um segundo problema que cilindra algumas secções em detrimento de outras : Por exemplo, a Secção B, cuja sede se situa no Campo Pequeno, pode fazer militantes em todas a área do Concelho de Lisboa, ou seja tem dezenas de universidades e centenas de escolas secundárias onde pode filiar novos militantes. Moscavide, por exemplo, fica cingido a uma área de secção que corresponde ao muito complicado Concelho de Loures, tendo poucas escolas secundárias e nem uma Universidade. Ou seja não pode simplesmente competir com as grandes secções, por excelentes quadros que tenha.

Mais, a JSD perde com este sistema milhares de militantes. Dou-vos um exemplo : Tenho amigos na minha Faculdade, que estando cá a estudar e querendo participar da JSD, gostavam de entrar na secção a que presido. Ora não podem. Tem que ir para outra secção qualquer do concelho de Lisboa. Na prática perde-se um militante, perdem-se milhares de militantes.

Argumento que poderiam dar era que se todas as secções pudessem fazer militantes em todo o lado, poderíamos incentivar ainda mais o alistamento em massa, tendo por exemplo a Secção de Cascais com militantes de Vila Nova de Famalicão ou de Santo Tirso ou de Silves. Concordo, daí sugerir algumas medidas : Por um lado determinar que um militante só poderia trocar duas vezes de secção no seu percurso político, ou seja por exemplo, um militante de Santo Tirso podia se filiar na secção de Algés e depois poderia se refiliar na secção de Beja, por exemplo. Mas não mais que isso. Depois cada militante tinha de estar pelo menos 3 anos em cada secção por forma a apanhar um conjunto vasto de actos eleitorais, pelo menos duas comissões políticas de secção, uma nacional e uma distrital, para que não existisse a transferência de militantes, as chamadas brigadas de militantes. E Depois cada militante tinha que participar em pelo menos um acto eleitoral em cada três, evitando assim que fossem feitos militantes em Paços de Ferreira para uma secção no Algarve.

Assim resolvia-se um problema. Todas as secções podiam fazer todos os militantes sendo que a atracção pela qualidade ficava salvaguardada. Quanto ao voto ser pela qualidade e pelo o número, isso só com uma mudança de mentalidades. Mas seria dado um passo em frente se com este método permitíssemos, que outros protagonistas tivessem poder efectivo para tentar alterar as mentalidades dos militantes.

Porque é que ninguém faz isso ? Pensem lá. Aposto que nem 3 segundos demoraram. Os responsáveis que estão lá agora são aqueles que provêm das secções mais fortes, logo alterando o sistema perderiam o seu feudo e expunham a sua incompetência face ao trabalho de base feita por inúmeras secções.

Este não é um post de ataque às grandes secções, porque há grandes secções que trabalham muito, ainda que tenham muitos militantes, entre as quais destaco a Secção B ou mesmo a Secção de Mafra. E nem todas as secções pequenas têm bons quadros. Simplesmente penso que esta injustiça deveria acabar. Assim seria mais equilibrado e poderíamos realmente ter os melhores.

Não que assim seja impossível. Impossível é normalmente o que nunca se tentou. Simplesmente para um excelente grupo, excelentes ideias, pessoas idóneas e trabalhadoras, que servem a estrutura em vez dela se servirem, venceram à mediocridade dos grandalhões é preciso o triplo do trabalho do que seria normal, que aliás, não deveria nesse aspecto ser algum, pois isso seria a escolha normal.

Mas não desesperem. E outros podem desesperar. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Mude-se ou não o sistema, cheira a mudança. O cheiro pode ser leve mas intensifica-se. A mudança faz-se todos os dias, todos os anos, todas as décadas.

10 comentários:

Bruno disse...

Caro Tiago,

Este tema é-me muito caro. Defendo desde há algum tempo a promoção pelo mérito e a sua inclusão nos estatutos da Jota e do PSD. Isso poderia ser feito colocando filtros ao exercício de determinados cargos.

Por exemplo: para se ser Presidente de Secção teria que se ter uma determinada valorização. Essa valorização seria conseguida através de um sistema que incidia sobre vários aspectos do percurso de cada um: presença em associações, percurso académico, etc.

É óbvio que isto não seria fácil de controlar, que seria passível de tentativas de fraude. Mas poderia ser um passo no sentido que defendes...

Bruno disse...

Quanto ao que falas a nível do peso das maiores secções, penso que tens alguma razão. Mas não toda.

Em primeiro lugar deixa-me dizer-te que as directas não anulam esse peso, pelo contrário. O que tornam é mais difícil a uns controlarem todos os outros.

Depois, aquilo que dizes em relação ao defeito de fabrico das Secções de Lisboa Cidade é bem verdade. Ou se opta por criar secções que correspondem a uma determinada área geográfica e jogam todas com as mesmas regras ou então estamos a viciar as coisas. É caso para dizer: ou comem todos ou há moralidade!

Em relação à pouca capacidade de intervenção dos Conselheiros das pequenas secções, já não posso concordar mesmo nada contigo. Experimenta levar moções que sejam da autoria de militates que não sejam conselheiros distritais e pede à mesa autorização para que eles as apresentem. Não acredito que te recusem essa possibilidade. Não conheço a realidade de Lisboa mas não me parece que a democracia esteja assim tão "pelas ruas da miséria" para os vossos lados...

Para concluir, deixa que te diga o seguinte: já vi que tens ideias e que tens vontade de mudar o que acgas que está mal. Não te fiques aqui pelo blogue. Tens uma série de ferramentas para o fazer. Congressos, Conselhos Nacionais, Conselhos Distritais, Reuniões com a CPN, etc etc etc. Mas não vires a cara à luta.

Bruno disse...

Peço desculpa pela multiplicação de comentários mas é só para clarificar que aquilo que defendo no primeiro comentário não é ideia original minha. Foi-me falado pelo Ricardo Acto, ex-Presidente da AAL.

Tiago Mendonça disse...

Caro Bruno,

Concordo consigo quanto à questão da valorização servir como filtragem para se exercer certos cargos políticos, não sei se com esses ou outros critérios. Acho que a ideia das pessoas adquirirem conhecimentos para os colocarem ao serviço da estrutura deve ser salientada em detrimento da ideia seguida por muitos de utilizar a estrutura para se auto-promoverem, sendo nulidades na sociedade civil.

Quanto às secções pequenas e aos discursos, concordo consigo. Mas no que respeita às moções. Se por exemplo uma secção quiser intervir na análise da situação política é diferente ter 16 ou 6 conselheiros distritais.

Quanto a não virar a cara á luta não viro. Simplesmente é mais complicado passar a palavra quando tu falas e sai metade da sala, ou quando a pausa para afinar estratégias é feita quando tu falas. Enfim :) Mas não virarei...já no próximo conselho distrital, darei provas disso mesmo.

Tiago Mendonça disse...

Caro Bruno,

Concordo consigo quanto à questão da valorização servir como filtragem para se exercer certos cargos políticos, não sei se com esses ou outros critérios. Acho que a ideia das pessoas adquirirem conhecimentos para os colocarem ao serviço da estrutura deve ser salientada em detrimento da ideia seguida por muitos de utilizar a estrutura para se auto-promoverem, sendo nulidades na sociedade civil.

Quanto às secções pequenas e aos discursos, concordo consigo. Mas no que respeita às moções. Se por exemplo uma secção quiser intervir na análise da situação política é diferente ter 16 ou 6 conselheiros distritais.

Quanto a não virar a cara á luta não viro. Simplesmente é mais complicado passar a palavra quando tu falas e sai metade da sala, ou quando a pausa para afinar estratégias é feita quando tu falas. Enfim :) Mas não virarei...já no próximo conselho distrital, darei provas disso mesmo.

Anónimo disse...

Tiago,

Quanto ao método de eleição estou com o Bruno: mudas o sistema mas nada muda em si.

Armas injustas: tu lideras Moscavide e podes fazer militantes em qualquer zona do concelho de Loures. À tua escala, também podes fazer mais militantes que a tua área de secção. Os militantes em Lisboa que não podem ir para a tua secção sabes bem onde podes entregá-los para serem grandes militantes: na Secção B. Já a jota não perde militantes.

Depois uma pequena falha: se Cascais tem tantos militantes de fora do Distrito, e o sabes, convinha denunciá-lo.

Limites à transferência: eu sou de Lisboa; vou estudar para Coimbra e fico lá a trabalhar. Quero ser activo politicamente - transfiro-me para Coimbra. Sou desafiado por um projecto profissional em Aveiro. Devido ao meu trajecto desafiam-me a abraçar a actividade partidária em Aveiro. Constituo família. Transfiro-me e faço a minha vida em Aveiro.

Tenho 55 anos e os investimentos numas propriedades alentejanas permitem-me viver de rendimentos. Vou saborear a vida para o doce e tranquilo alentejo. Desafiam-me a trazer a minha larga experiência para dinamizar a depauperada secção do PSD local.

O PSD perde mais do que ganha com limites às transferências. Quanto ao período mínimo de militância numa secção concordo.

Tiago Mendonça disse...

Meu caro Nélson Faria,

Admito, é mais simples, que me tenha explicado mal.

Penso que, como percebeste, ao falar da Secção de Cascais era a título meramente exemplificativo. Falei de todas as secções e lugares em termos aleatórios. Não denunciando qualquer caso em particular.

Em segundo lugar, quando há troca de secções, quando me referi a percurso político, sendo o texto relacionado com a JSD, referia-me ao percurso na JSD. Admiti as duas trocas pensando que, por exemplo, um militante começa numa secção porque vive lá, troca mais uma vez para o sítio onde estuda, e ainda mais uma para voltar ao sitio de residencia ou para um local de trabalho. 3 vezes em no máximo 16 anos de JSD, com obrigatoriedade de permanencia minima, parece-me razoável. E nesse sentido o seu exemplo já não se enquadra.

Quanto às armas injustas, esboçei um sorriso Nélson. Queres comparar teres uma escola secundária de Frielas ou uma Faculdade de Direito de Lisboa ? Uma escola Básica em Unhos ou o ISEG ? Loures tem algumas, não muitas, escolas secundárias e nenhuma universidade. O concelho de Lisboa tem centenas de escolas secundárias e dezenas de Universidades. Comparar uma coisa a outra é que é injusto. De facto são escalas muito diferentes.

Sobre os militantes, não discordo que eles possam ser militantes da B. Se assim o quiserem e se identificarem. Ainda que ache que não só na B se formam grandes militantes.

Anónimo disse...

Amigo Tiago,

agora imagina as dificuldades das pessoas do Alentejo, em que no último congresso o distrito de beja tinha menos um delegado que a secção a que presido. Não me enganei: um distrito inteiro!

E já muitas secções foram pequenas e deram saltos enormes: há que encontrar é o nicho de mercado. O teu modelo continua a parecer injusto, mesmo para a jota, era só mudar o exemplo.

Filiado desde os 16: Liceu na Madeira, 2 anos em Lisboa, 3 em Coimbra e vai trabalhar para o Porto, ou volta a Lisboa. Já tinha excedido.

As previsões gerais abstractas devem coarctar o mal mas sem prejudicar os que agem por bem.

P.S. A Secção tinha 200 militantes em 2000 e Mafra 180. Há dificuldades para uma secção como moscavide, mas há que transformar as dificuldades em oportunidades. Complicado é ser do distrito de beja ou évora, ou mesmo castelo branco.

Tiago Mendonça disse...

Nélson,

Apenas três pontos :

1 - Penso que quando ao modelo preconizado das três transferências possíveis esse seria um modelo bem melhor do que o actual. Seria uma melhoria não obstante de,obviamente, não ser infalível. Mas sejemos sérios, será com frequência que uma pessoa vem de um colégio da madeira, filiando-se logo aos 16 anos, e depois vem para uma faculdade em Lisboa, troca a meio do curso para uma de Coimbra e depois vai trabalhar para o Porto ? Faz sentido. Acontece frequentemente? Não podemos, como saberás, legislar a pensar na excepção. Prefiro mudar o sistema, e penalizar a uma ou duas pessoas em que isso aconteça. Também não faz grande sentido, a pessoa só porque dá 2 anos em Lisboa se vá inscrever logo numa secção e depois mais três em coimbra e noutra. Nem tempo tinha para conseguir trabalhar.

2- Ó Nélson então eu falo-te em competitividade distrital e tu falas-me em beja? Claro que é mais fácil fazer militantes em Cascais que em Arronches, ou no Campo Pequeno em relação a Extremoz, ou na Madeira em relação aos Açores. Mas eu falo em competitividade dentro do distrito. Permitir que dentro do seu distrito todos lutem com armas iguais. Depois, cada um potencia como quer o seu distrito. Mas, mesmo assim, meu caro Nélson, uma nota para salientar que a votação do PSD em Beja, Alentejo profundo, foi de 17,25% contra os 16,44% obtidos em Loures, ou seja, até há mais afinidade com o PSD em Beja do que em Loures, situação que um conjunto de medidas que irei propor a minha comissão política de Partido espero ver invertida. Beja tem as mesmas 18 freguesias que Loures. Já comparando com os 42,43% de Lisboa obtidos nessa eleição o mesmo não sucede. Ou com os 56,47% de Mafra. Ou com os 49,48% em Cascais. Ou com os 43,49% em Sintra. De qualquer forma, isto é só curiosidade. O que me interessou neste post, é precisamente a competitividade inter distrito, e que as boas secções não devem temer.

3-Citaste o exemplo de Mafra. Desde como ano de referência 2000. 8 anos para um crescimento de cerca de 300 a 350 militantes. Não tenho dúvidas que Moscavide conseguirá esse crescimento em cerca de 3 anos e meio. ( Já contanto com o ano e meio de mandato que levo como presidente dessa secção ) . Seria uma extraordinária vitória para nós, até porque não pensamos em militantes noite e dia e vamos apresentando trabalho político ( como Mafra também o faz). Mas se falamos em comparação de Concelhos não se pode comparar as duas áreas. 56,47% vs 16,44%.

Há uns tempos na minha secção, falavas em diferenças. Falavas em necessidade de ser muito bom ou apenas mediano. Lembras-te ? Pois eu concordo com essa tua ideia que não irei aprofundar por ter sido uma conversa pessoal.

De qualquer forma, dizer que não pertendo como já tinha referido fazer qualquer vitimização. Vamos crescer e vamos crescer muito, e em 3 ou 4 anos seremos da secções mais numerosas do distrito. Mas também mais numerosas em moções, em ideias, em actividades, em quadros políticos lançados. Uma coisa é que leva a outra. A única coisa que quis dizer, é que numa área de secção como a que tens, por exemplo, fazia 200 militantes ( não estou a mandar para o ar ) em duas ou três semanas ( tendo uma disponibilidade horária, era disso que se tratava essencialmente ) total nessas duas ou três semanas. E acredita que teriam muito mais qualidade do que alguns que para aí andam e até são concelheiros distritais.

De qualquer forma, uma saudação para a B que é, indubitavelmente, uma secção-exemplo no distrito de Lisboa.

Tiago Mendonça disse...

Eu costumo dar erros, mas de facto o último post abusou. Peço desculpas aos leitores do blogue. Ao escrever rápido e com algum entusiasmo, quase como se estivesse a debater cara a cara, não tenho a atenção que devia e podia ter aos erros na ortografia. Vou tentar ser mais ponderado na escrita ou seguir a sugestão do Luís e escrever primeiro em Word.

Têm post's mais espontâneos mas pior escritos. Tentarei equilibrar as duas. Mais uma vez, um pedido de desculpas aos leitores.