sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O Comeback de Clinton

As eleições Primárias de New Hampshire revelaram-se mais uma vez emocionantes e, contradizendo o que vinha a ser relatado nas sondagens, trouxeram vencedores algo inesperados. No campo republicano a surpresa não foi tanta, uma vez que John McCain com 38% "limitou-se" a repetir a vitória que conquistou precisamente 8 anos depois da sua primeira vitória em 2000 nesse estado. Mais uma vez, McCain contou com a preciosa ajuda dos eleitores independentes que, desta feita, abandonaram Obama e causaram a maior surpresa da noite. De facto, com as sondagens a prever que Barack Obama ganharia as primárias de N.H. com uma margem tranquila de 8%, Hillary Clinton conseguiu levar a cabo uma incrível recuperação, acabando por vencer com uma margem de cerca de 2%. Este comeback de 10% da senadora pode ser facilmente justificado com a mudança de estratégia da mesma, abandonando o tom frio e arrogante que adoptou em Iowa passando a dar um tom emotivo ao seu discurso tendo, inclusivamente, não contido as lágrimas numa importante entrevista que tinha dado nas vésperas das eleições. Se esse fenómeno se revelou determinante para a conquista de um eleitorado especialmente feminino e jovem que apoiava Obama e que constituiram um dos pilares da sua vitória, muitos críticos garantem que Clinton só "chorou porque presisava" - com toda a intencionalidade e estratégia - enquanto Obama, num tom cordial e de "fair-play" deu os sinceros parabéns à candidata. Uma postura de louvar.

Este novo argumento psicológico de humanização pode sem dúvida fazer mudar algumas intenções de voto, sendo prevista a continuação da votação em massa das mulheres em Hillary. Mesmo assim, perante esse factor e o da "fuga" dos independentes, o resultado de Obama não foi de todo negativo dado que elegeu tantos delegados como a adversária. Barack Obama estará certamente a centrar a estratégia da sua campanha nos próximos embates democratas de Janeiro, nomeadamente o caucus em Nevada (oeste) dia 19 e as primárias na Carolina do Sul (sudeste) a dia 26 onde John Kerry já lhe declarou o seu importante apoio. Deste último Estado é natural John Edwards que terminou num distante terceiro lugar (17%) em N.H., onde atacou fortemente Hillary Clinton, começando desde já a ser considerado com um outsider na luta com Obama e Clinton no partido democrata.

Voltando ao lado republicano, é difícil definir um candidato favorito, se bem que McCain tem ganho bastantes pontos e segue em frente nas sondagens para os próximos embates eleitorais, sendo cada vez mais o favorito à vitória final dos republicanos. Já Mick Huckabee, após ter vencido Iowa, obteve apenas 11% dos votos em New Hampshire o que pode indicar que a sua estratégia muito conservadora e ajudada pela figura de Chuck Norris, talvez não resulte em todos os estados como desejaria (talvez consiga garantir o Texas). Pelo seu lado, Mitt Romney vê nos 33% de votos por si obtidos como um sinal positivo e revitalizador para a sua campanha mas Michigan será decisivo no que diz respeito à possibilidade de vencer o lado republicano como era esperado inicialmente. Por fim, ainda a considerar a capacidade mobilizadora de Rudy Giuliani que, apesar da fraca prestação e desempenho que tem mostrado, reúne já a 4ª maior angariação de fundos, lista liderada por Hillary que foi quem reuniu mais fundos para a sua campanha, maioritariamente provenientes dos grandes lobbies e batendo todos os records, seguida de Obama e de Romney. Giulliani continua a revelar-se uma desilusão mas há que ter em atenção que o mesmo optou por centrar as suas atenções nos maiores estados, o que, por um lado, reflecte no pobre resultado nas duas últimas votações mas que, por outro lado, pode antever uma possível reviravolta num futuro próximo embora muito pouca gente acredite nisso por esta altura. Será na Florida, a 29 de Janeiro, que será possível entender até que ponto a sua candidatura tem sido, ou não, sobre-estimada mas é certo que mais uma derrota deste tipo para Giuliani e, possivelmente, a sua campanha chega ao fim.
Tudo isto a relativamente pouco tempo da "Super Terça-Feira" de 5 de Fevereiro de 2008, onde 22 estados irão votar simultaneamente no candidato que entendem como mais indicado para o inegavelmente poderoso cargo de Presidente dos Estados Unidos. Serão sem dúvida meses bastante atribulados e emocionantes para esses lados, o que promete uma luta eleitoral muito aguerrida e sem precedentes no que diz respeito à envolvência e participação do povo americano neste processo.

Para finalizar, queria só fazer um pequeno comentário à votação que ainda ocorre no blogue e cujas "urnas" encerram daqui a 4 dias, onde a tendência dos votos é para o que realmente se verifica, para o que foi dito e o que, provavelmente, irá acontecer. Os democratas reúnem mais votos beneficiando da luta renhida entre Obama e Clinton que irá continuar a aguçar as eleições americanas, relegando John Edwards para um 3º posto, praticamente fora dessa luta. Já os resultados dos republicanos espelham a realidade, com poucos votos e alguma indecisão em relação ao favorito embora McCain esteja ligeiramente à frente de Huckabee e Romney nas preferências dos leitores assim como nas sondagens mais peritas. Todos os outros candidatos não terão a mínima chance de convencer a tempo o eleitorado e chegar a qualquer tipo de vitória, devendo mesmo existir algumas desistências entretanto.

No caso dos cidadãos americanos terem a mesma opinião em relação ao melhor candidato à presidência americana do que os que aqui votaram e que será, de facto, um candidato democrata que sairá vencedor das eleições finais, será feita história: ou uma mulher ou um negro conquistarão pela primeira vez a Casa Branca. Estaremos cá para ver!

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