quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A Odisseia da Política*

Um comentador do nosso blogue, anotou a existência de um outro texto sobre a temática das piscinas na portela, sugerindo que seria interessante a sua publicação para fim de melhor esclarecimento dos factos políticos, e não só, que circundaram esta " trapalhada " das piscinas bem como de potenciar o debate político sobre as mesmas. Por isso depois de o texto escrito pela Dra. Suzana Toscano, este publicado pelo Dr.Paulo Guedes da Silva no seu blogue pessoal:

"Cumpriu-se no fim-de-semana um dos sonhos, tornado pesadelo nos últimos anos, dos portelenses – a inauguração da sua piscina. Virou-se também a página de um dos capítulos da meritória intervenção autárquica do Partido Social Democrata, os promotores da ideia original de a Câmara Municipal de Loures participar na solução do problema desta obra se encontrar parada, há largos anos, desde que a Associação de Moradores da Portela (AMP) estivesse receptiva a que o equipamento passasse a ser do domínio municipal.
Mas sendo uma aspiração antiga de três décadas e tendo sido promovido o lançamento da primeira pedra só em 1993, o passo decisivo da solução final – equipamento municipal, viria a ser dado por mim em 1999, no âmbito das rondas negociais promovidas pelo então presidente da Câmara Municipal, Demétrio Alves, com os restantes partidos para apreciação do Orçamento para 2000. Existiam, no entanto, um problema e uma incógnita: o documento orçamental pronto para ser apreciado e votado não incluía qualquer dotação para a piscina da Portela e não se previa qual o grau de adesão da Associação de Moradores à ideia. Tínhamos, porém, a certeza de que, por um lado, dificilmente a Associação conseguiria reunir a verba necessária para a conclusão do investimento e, por outro, um número significativo de habitantes começava a defender a demolição da estrutura de betão e substituição por uma zona verde, desconhecendo o facto de lá estarem investidas largas centenas de milhares de euros, resultantes de donativos e de uma comparticipação estatal de Nunes Liberato, Secretário de Estado da Administração Local de um Governo do PSD.
Faltava, então, a carta de conforto. Era fundamental que a disponibilidade municipal para aceitar a proposta, transmitida em privado por Demétrio Alves, apesar de alguma resistência inicial, fosse assumida publicamente em sede de Assembleia Municipal, onde os votos do PSD eram determinantes. O que viria a suceder, honrando a sua palavra e tendo ficado registadas em acta a minha intervenção e a sua resposta que incluía o propósito de encetar negociações e assumir o investimento se ambas as partes viessem a selar o acordo no modelo proposto. Esta é a pequena história do grande passo que permitiu desenvolver a solução que conhecemos.
Surgiriam depois as dificuldades conhecidas: o erro de ser conferida prioridade à construção da piscina de Santo António dos Cavaleiros (Carlos Teixeira integrava então a administração da GesLoures, lembram-se?) em detrimento da Portela, avanços e recuos de algumas direcções da AMP, dívidas desconhecidas à construtora, dúvidas tardias sobre a solução com o aparecimento de investidores privados e várias versões de projecto, que ora contemplavam o aproveitamento da estrutura de betão inicial ora previam a sua demolição. A tudo isto os representantes do PSD nos órgãos municipais e na Junta de Freguesia assistiram pacientemente, com esta última a ter o papel fundamental de aproximar as partes, moderar as negociações e superar os constantes retrocessos, quer negociais quer do Partido Socialista, vencedor das eleições de 2001, que foi adiando sistematicamente o investimento até 2005, à medida que o foi prometendo com a mesma regularidade e sem que algum deputado municipal do PS ousasse questionar o incumprimento da promessa durante esse espaço de tempo.

Sobre o tema não poderia deixar de me deter, ainda, sobre a rábula que encerrou os discursos de inauguração da piscina: o presidente do município brindou os responsáveis do equipamento com uma miniatura do Pinóquio, uma oportuna homenagem ao longo cardápio de mentiras, que foram sendo desfiadas ao longo dos últimos anos, e em particular dos dois mais recentes.
Senão vejamos: a duas semanas das últimas eleições autárquicas – 21 de Setembro de 2005 - o Partido Socialista anunciou a construção das Piscinas da Portela até Agosto de 2006, invadindo o centro da freguesia com vários painéis, que ainda hoje permanecem, e uma tela de largas dezenas de metros promovendo o feito. O resultado eleitoral da façanha na freguesia é conhecido …
Posteriormente, foi garantida a sua conclusão em Maio de 2007. Depois, estaria pronta em Maio, mas por motivos de abertura do ano escolar só seria inaugurada e aberta ao público em Setembro. Mais tarde, surgiu aquela história da adaptação do edifício às mais avançadas tecnologias térmicas e ambientais, que na realidade se destinou a adornar publicamente um erro de projecto, por não respeitar a mais recente legislação nestas áreas. Em suma, a piscina e os acabamentos exteriores só ficaram prontos a tempo da inauguração, em Janeiro, o que aliás já estava previsto pela Câmara Municipal, pois em Julho já circulavam documentos com previsão de efeitos financeiros do investimento para o corrente ano de 2008.
O que é fantástico, pois o único investimento importante realizado na freguesia nos últimos seis anos serviu de justificação para não concretizar outros investimentos essenciais no mesmo período de tempo. A quarta fase de arranjos exteriores prevista para este ano (ainda não tem verba no “plano definido”) vai pelo mesmo caminho, ou seja, também foi prometida em Dezembro de 2005, em plena reunião da Câmara Municipal.


Nesta versão moderna da história, o ajudante do velho Gepeto não mente. Digamos, por condescendência, que vai mitigando a verdade. É também por isso que quando assistimos à mais repetida inovação das cerimónias públicas: a divulgação do seu novo estatuto de avô, pelo presidente do município, nos ocorre instintivamente a simpática figura do “Avô Cantigas” e logo pensamos tratar-se da música do “Fantasminha brincalhão”."

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Tiago Mendonça, a informação circula a uma velocidade superior à da nossa navegação, pelo que somos por vezes confrontados com agradáveis surpresas. Respondendo ao seu repto, deixado em forma de comentário no meu blog - http://pauloguedesdasilva.blogspot.com - é naturalmente com agrado que registo o vosso interesse, o seu e o do leitor não identificado, na síntese da verdadeira história que conduziu finalmente à inauguração das Piscinas da Portela. Pelo que agradeço também a publicação integral do post. Pena é que a morosidade descrita tenha conduzido nesse dia à audição de lamentos como aquele que ouvi de um dos portelenses mais velhos, com responsabilidade associativa:"Lançámo-no neste projecto para que os nossos filhos tivessem acesso a uma prática desportiva saudável e agora, quando elas são finalmente inauguradas, somos nós os mais velhos quem delas precisa...".
Um abraço e votos de sucesso para o vosso blog.